quarta-feira, 6 de julho de 2005

A Carris na Alta de Lisboa


(Fotografia de Luís Cruz-Filipe)

Pediu-me o Tiago que escrevesse algo sobre o passado, presente e futuro das carreiras da Carris na Alta de Lisboa. Antes de começar, quero deixar claro que não tenho qualquer ligação à empresa ou quaisquer interesses no assunto que não os de uma pessoa com hobbies um bocado menos convencionais.

A rede da Carris na zona do Alto do Lumiar (ou seja, para Norte da Segunda Circular, entre a Alameda das Linhas de Torres e o Aeroporto) foi desenhada no pós-25 de Abril, quando andar de autocarro deixou de ser um luxo e passou a ser o modo de deslocação por excelência das classes trabalhadoras. Entre 1975 e 1976 a oferta da Carris cresceu exponencialmente (as frequências típicas de hora de ponta passaram de um autocarro a cada quarto de hora para um a cada cinco ou seis minutos, enquanto o número de carreiras aumentou com a criação de desdobramentos para facilitar a ligação ao Metro).

Em 1971 havia duas carreiras naquela zona: a 1 (do Cais do Sodré à Charneca, seguindo a partir do Lumiar pela Azinhaga da Cidade e Estrada de São Bartolomeu) e a 17 (também do Cais do Sodré à Charneca, mas por Sapadores e Areeiro, seguindo a partir da Avenida do Brasil pela Avenida Santos e Castro). Em 1976 a carreira 17 tinha sido prolongada aos Fetais, via Galinheiras, e a oferta tinha sido reforçada com a criação das carreiras 17A (Praça de Alvalade - Galinheiras, sobrepondo à 17), 17B (CampoPequeno - Galinheiras, via Lumiar, Estrada da Torre, Azinhaga da Musgueira e Avenida Santos e Castro) e 36A (Entrecampos-Musgueira, via Campo Grande, Segunda Circular e Avenida Santos e Castro). Entre 1976 e 2004 pouco mudou: a carreira 17A foi desviada (é a actual carreira 106, que liga o Campo Grande às Galinheiras via Calçada de Carriche e Estrada Militar), a carreira 17B é agora a 108 e a carreira 17 só vai até à Praça do Chile. Apenas a carreira 36A teve um percurso mais conturbado: em 1997 foi encurtada ao Campo Grande, passando a ter o número 77; em 2001 foi extinta devido à demolição das últimas casas no bairro da Musgueira Norte; e uma semana depois foi retomada com alterações de percurso, tendo sido posteriormente ajustada várias vezes. Actualmente circula entre o Campo Grande e a Rua João Amaral, passando pelo Parque Europa e pelas urbanizações que substituiram os antigos bairros da Musgueira Sul e Musgueira Norte.

Em 2004 a Carris encomendou um estudo de mobilidade no Alto do Lumiar com vista à restruturação da rede nessa área da cidade, tendo em conta a expansão da rede de metropolitano (recorde-se que as estações da linha amarela entre o Campo Grande e Odivelas abriram a 29 de Março de 2004). A 17 de Abril desse ano as carreiras que servem a zona foram(quase) todas alteradas, tornando (em particular) a Alta de Lisboa numa das zonas mais bem servidas de transportes actualmente. Assim, as carreiras 1 e 3 asseguram serviço no eixo Charneca-Ameixoeira-Lumiar a cada seis minutos à hora de ponta e dez minutos ao fim-de-semana, dando ligação a quase todas as linhas do metropolitano: amarela (na Ameixoeira e Lumiar), verde (carreira 1 no Campo Grande) e azul (carreira 3 no Colégio Militar, carreira 1 em Sete Rios). Por seu turno, a carreira 17 foi reforçada, passando a circular com intervalos de oito minutos às horas de ponta e treze ao fim-de-semana. Mantêm-se ainda as carreiras 77 e 108.

A 20 de Janeiro deste ano a Carris anunciou que iria em breve restruturar a sua rede completamente. Segundo um comunicado da empresa, a rede actual não se ajusta à estrutura de uma cidade que já não tem na Baixa o seu único pólo de atracção. A nova rede (que segundo as últimas informações vai começar a ser introduzida em Setembro, o que quer dizer que lá para Janeiro talvez aconteça alguma coisa) está estruturada segundo os mesmos princípios que vigoram já nas carreiras do Alto do Lumiar: ligação rápida ao metropolitano em vários pontos, frequências elevadas em locais centrais (nas paragens da Rua Tito de Morais a oferta às horas de ponta é superior a 2000 lugares por hora, ou seja, uma média de um autocarro a cada dois minutos), criação de carreiras de bairro que parem em todos os locais possíveis e imaginários. Neste último ponto a rede do Alto do Lumiar ainda não está completa, estando prevista a restruturação da carreira 77 e a criação duma nova carreira com ligação à Ameixoeira para servir zonas actualmente sem paragens. Está também anunciado o encurtamento da carreira 108 ao Campo Grande, o que corresponderá a um aumento significativo da oferta no troço Campo Grande-Galinheiras: a ligação ao Saldanha é assegurada pela linha amarela do metropolitano, e o número de veículos em circulação na carreira manter-se-á. (Para os mais cépticos, o mesmo princípio foi já aplicado na carreira 47, que deixou de ir ao Campo Pequeno e termina agora no Campo Grande; a frequência de horas de ponta desta carreira, que era de onze minutos, passou a ser de oito).

Também para um futuro não tão próximo estão previstas alterações de percurso nas carreiras 1 e 3, que actualmente se sobrepõem totalmente entre o Lumiar e a Charneca, por forma a diminuir a distância média a uma paragem de autocarro e o restabelecimento do percurso da carreira 108 pela Avenida Santos e Castro.

Luís Cruz-Filipe


1 comentário:

Pedro Veiga disse...

Ainda bem que a carris está a fazer alguns esforços para melhorar o serviço. Ainda ontem recebi um e-mail da carris a dizer que reforçava uma das carreiras que serve a Alta de Lisboa devido ao aumento da procura. Todavia, há alguns aspectos que deviam ter já sido levados em conta. Deixo um exemplo: Quem sair da estação de metro da Ameixoeira e quiser apanhar um autocarro em direcção à Alta de Lisboa ainda não tem uma única paragem de autocarro nos passeios arranjados para o efeito! As paragens que existem estão colocadas em pontos mais afastados da estação de metro em estreitos passeios!